quarta-feira, 30 de maio de 2007

Mini-reflexões vespertinas

Europeuzinho da Beija-Flor? / Nas próximas férias, cuidado com os brinquedinhos que vai levar. / Ganhe na mega-sena, perca amigos e não embolse o dinheiro. / Se não come apanha; se come, também. / Ah, se a moda pega aqui no Brasil (parte II). / Vai uma viagem turística a Jerusaguei aí? / Mil pintos a menos no país todos os anos. / Alguém receite Semancol a esse rapaz, por favor.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Reflexões vespertinas

01. O papa tá dando mais gafes que Lula e Bush juntos.

02. Pena que a nossa espécie não está nesta nada honrosa lista.

03. Enquanto uns vendem a virgindade (da filha), outros pagam votos pagando boquete.

04. Olho por olho, dente por dente; ficaremos todos cegos e banguelas.

05. Até o Zé Dirceu entrou na campanha!

06. Serra e a crise da USP: nem a Folha agüenta mais o Super_Vampiro

07. Kassab e os factóides, apocalípticos e integrados

08. Não é só esgoto que fede no Tietê; a incompetência também.

09. Vergonha na cara?

10. O Brasil é o país do futuro, partes I e II

11. Esta moda podia pegar aqui.

12. Os maiores spamzeiros da galáxia.

13. Simulação com balas de verdade? Só no Brasil mesmo. Espero que não matem ninguém na reconstituição.

14. Esses teletubbies nunca me enganaram (nem aos poloneses). Resta aos gorduchos boiolas o refúgio e a vingança na Austrália.

15. Minas Gerais será a nova potência olímpica?

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Tempo tempo tempo tempo

"Se elas [as viagens no tempo] existissem, os cientistas do futuro já as teriam descoberto e nossa época estaria cheia de turistas do tempo." (Stephen Hawking)

Pela Teoria da Relatividade, o tempo é uma dimensão – na verdade um conjugado espaço-tempo, o qual a gravidade deforma em escalas enormes de energia.

Quando nos movemos, deformamos esse espaço-tempo com nossa massa, interagindo com a gravidade. Por exemplo: os planetas são mantidos em suas órbitas devido à força gravitacional, entendida como encurvamento do espaço-tempo produzido pela enorme massa do Sol.

Segundo Einstein, uma certa quantidade de massa, como a de uma estrela, pode curvar até um raio de luz que passe por perto. Como a velocidade da luz não pode mudar, é o tempo que se adapta às curvaturas da paisagem.

Quanto maior a velocidade, maior a deformação do espaço-tempo, como uma bola de boliche rolando sobre um colchão macio. Digamos que, nesse âmbito, a curva é a menor distância entre dos pontos, como um atalho.

Deformando a quarta dimensão, o tempo passará mais devagar para nós do que para o resto do Universo: um astronauta num foguete numa velocidade próxima à da luz voltará da viagem mais jovem do que os que ficaram na Terra. Tudo porque ele pegou esse atalho cósmico, atingindo mais espaço em menos tempo.

Não existe velocidade maior que a da luz. Por isso, se conseguíssemos atingi-la (o que geraria um campo de energia suficiente para criar um buraco negro), o tempo simplesmente pararia para nós: atingiríamos uma singularidade temporal.

Ainda que uma viagem no tempo só seja possível com velocidades próximas à da luz (o que, pela equação E = mc², demanda uma quantidade monstruosa de energia), o que, pelo menos atualmente, inviabiliza tal empreitada, o fato é que ela é teoricamente possível. Ou seja, se conseguirmos viajar ao futuro, ele estará lá nos esperando. Caso não possamos ainda, ele continuará lá, do mesmo jeito.

Veja só a problemática: o futuro é um lugar que já está lá, assim como o passado ainda persiste. Imagine o termpo não como um fluxo, mas como algo estático. Lembra daquele negócio de que o movimento de um corpo depende do referencial? Pois então, é isso. Assim como os espaços existem o tempo todo, assim também são os instantes. Para um observador fora do Universo (um deus, digamos assim) o tempo seria como um rolo de filme estático, cena a cena, o qual ele pudesse ver inteiro.

E como fica o livre-arbítrio nessa história?

Esqueça filmes como De Volta Para O Futuro e concentre-se no tema. Pela teoria einsteniana, só podemos viajar para o futuro, uma vez que a Teoria da Relatividade, por si só, não dá margem a enigmas dessa ordem, pois em termos clássicos ninguém pode ser transportado ao passado. Não importa se um astronauta passeia em alta velocidade ou visita objetos densos: na volta, ele estará mais jovem, comparado às pessoas que ficaram em casa. Portanto pode-se falar que o viajante retornou ao futuro dos seus familiares. Mas não faz sentido dizer que o reencontro se deu no passado do astronauta, já que, para ele, o tempo também passou no sentido único tradicional, sempre rumo ao futuro.

Com os hipotéticos buracos-de-minhoca poderíamos viajar também para o passado, ou mesmo ir ao futuro e voltar antes da partida, além de outras maluquices. Mas como é apenas um devaneio dos cientistas, pois nunca foi observado nada parecido com um desses túneis, vamos manter o foco nas viagens para o futuro.

Só cabe aqui um adendo, que talvez possa até se desdobrar numa futura postagem: viagens ao passado têm outro problema que não o do livre-arbítrio – os paradoxos (que também trataremos a seguir, nas viagens futurísticas). Você pode viajar ao passado e matar o próprio avô antes que você nasça (o famoso “paradoxo do vovô”)?

Visto que o tempo não é uma sucessão de eventos, mas uma única explosão harmônica, tudo já aconteceu (e acontece continuamente); logo não há livre-arbítrio, uma vez que seu eu de amanhã já está fazendo o que você ainda acha que nem decidiu (e pelo jeito, nem vai decidir mesmo). Seremos meros peões do joguinho cósmico?

A saída para isso é tão ou mais inusitada: segundo os preceitos da mecânica quântica, como o Princípio da Incerteza e o Gato de Schrödinger, uma partícula (subatômica) pode estar em qualquer lugar até que se tente observá-la, pois qualquer instrumento de medida que usarmos acabará interagindo com ela.

Por exemplo: incidimos sobre um elétron algum tipo de radiação. Neste caso, quanto menor for o comprimento de onda (maior freqüência) maior a precisão. Contudo maior será a energia cedida pela radiação (onda ou fóton, tanto faz) em virtude da Constante de Planck (relação entre energia e freqüência da radiação) e o elétron sofrerá um recuo tanto maior quanto maior for essa energia, em virtude do Efeito Compton. Como conseqüência, a velocidade sofrerá uma alteração não de todo previsível.

Isso foi meio complicado, eu sei. Mas continuemos. O importante é que esse conceito pode ser usado como mote para uma alternativa à predestinação cósmica: universos infinitos que já existem. O multiverso.

Imagine que, assim como uma partícula subatômica, exista a probabilidade de você tomar qualquer decisão. Uma vez que a decisão é tomada, sua posição se revela e você segue o rumo normalmente. Há infinitos universos paralelos para cada decisão que você toma ou poderia tomar. Enquanto neste universo você está lendo este blog, outros vocês nas realidades paralelas estão fazendo outras coisas quaisquer, como tomar banho ou dormir.

Assim nós pularíamos de universo em universo, sabe-se lá como, a cada decisão; e as escolhas não feitas continuariam existindo nas dimensões alternativas.

E então, o que é mais bizarro: imaginar que não temos livre-arbítrio ou que possuímos infinitos clones em infindáveis universos paralelos, um para cada escolha possível em cada momento? Dá pra imaginar a quantidade de universos para todas as decisões de todas as pessoas que já viveram, vivem e viverão no mundo? Será que existem universos alternativos para os outros animais? Ou é mais terrível imaginar que tanto faz o que você fizar agora ou depois, visto que já está tudo predeterminado e seu eu de amanhã já está sentindo os efeitos das decisões que você irá tomar (na verdade, já tomou) e nem sabe?

São situações-limite para a mente humana, pelo menos por ora. Como pensar num universo infinito (como é algo sem fim?) ou finito (o que tem depois do fim dele?); ou imaginar a matéria por si só (ou Deus) com atributos eternos ou algo antes da singularidade/criação.

De qualquer forma, é fato que seu eu de amanhã, seja ele um só ou uma multidão, já está sentindo os efeitos do que você faz hoje, incluindo uma eventual tomada de consciência após ler este texto. E se você fizer inúmeras viagens no tempo, seja ao passado ou ao futuro, encontrará um de você para cada instante.

Agora o que pode acontecer quando duas da mesma pessoa se encontram (seja no passado ou no futuro, confirmando-os ou alterando-os,) já é assunto para outro post, quem sabe um dia. Quem sabe a dificuldade para a realização das viagens não seja um “seguro contra paradoxos” do Universo?

Este assunto vai longe, muito longe. E você, o que me diz?

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Reflexões vespertinas

Passeata a favor dos bingos: achei que fossem os velhos bingueiros reclamando o direito de se divertir. Ou José Serra, que parece gostar muito da coisa.

Enquanto isso, o pessoal da USP tá só na mamata: um verdadeiro parque aquático com direito a tobogã e cachoeira, ambos indoor.

Já nossos pobres jornalistas estão sem água: banho, só de Lula. Ou de apuração. Ou de isenção. Ou de objetividade. Ou de honestidade. Ou de liberdade.

Mas o certo é que o trabalho enobrece o homem: quase 150 japoneses sendo demitidos da vida por karoshi nas empresas; é uma pratica profissional comum por lá. Afinal eles não são nem comunistas, nem terceiromundistas. Se ao menos eles fossem goleiros...

Já no Brasil o negócio é tratar bem a clientela: Xuxa já sabia disso desde os áureos tempos.

Mas bom de mídia mesmo é o Eduardo Suplicy: além de ter parido o Supla, ser corno-manso e mandar umas baladas, agora ataca com hip-hop. É vergonha alheia demais pr’uma pessoa só; vamos dividi-la com o Capitão Kirk.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Habemus Papam!

Os melhores momentos do papa, com a cobertura mais relevante e essencial, você só encontra aqui.

Núncio presenteia papa com CD independente e quase comete gafe religiosa. Ronaldo se diz emocionado com a visita do papa ao Brasil. "Fábrica de santos" mantém ritmo de João Paulo 2º. Centenas de jovens já estão no Pacaembu; "água benta" custa R$ 2. Cambistas vendem "convites" para ver o papa no Pacaembu por até R$ 160. Jovem chora e diz que Papa é 'fofinho'. Pérolas de Zé Simão. Frank Aguiar assiste à canonização de Frei Galvão. Jovens esperam papa com rock, olas e gritos de guerra. Seita ameaça fazer protesto contra o Papa no Pacaembu. Padre Marcelo Rossi é barrado no Campo de Marte. Kassab entrega chave da cidade ao Papa. ONG católica defende aborto e preservativo. Torcedor pede ao Papa para tirar Corinthians da miséria. Emoção, empurra-empurra e até assalto marcam vigílias no mosteiro. O peregrino e sua cruz. Nossa Senhora das Embaixadinhas. Espera e decepção marcam passagem do papa por Potim. Deus exigirá satisfações de traficantes, adverte o papa. Polícia detém manifestantes anticristo que esperam por papa na basílica. Falso bispo se infiltra em evento com o papa. Evangelização da América foi encontro, não imposição, diz papa. Coletânea de frases de Bento XVI no Brasil. Para 'La Nación', visita do papa ao Brasil foi fracasso de público. Escondam as gravatas. Caminhada seria o segredo da boa forma de Bento 16. Aposentos usados pelo papa em Aparecida serão expostos ao público. Ciclista leva 25 dias pedalando para chegar a Aparecida. Bispo d. Celso diz que palavras de Bento 16 "são como um beijo". Comitiva de Bento 16 "esquece" dom Cláudio Hummes em basílica de Aparecida. Papa terá vinhos e massas no cardápio da viagem de volta ao Vaticano. Bento 16 toma suco e elogia pianista em almoço no seminário Bom Jesus. Após saída do papa, mosteiro de São Bento sofre tentativa de "invasão".

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Vicaris Filii Dei

Eu não ia falar nada sobre a vinda do papa; afinal é irrelevante, pra mim, o que ele pensa e diz (afinal sou ateu); e também o acho mais coerente do que os fiéis que tanto reclamam do reacionarismo dele.

All in all os neo-pós-pentecostais estão dominando tudo e o cash da igreja romana tá baixo; por isso nada melhor do que fazer uma visitinha aqui, e, por que não, canonizar um santo pra dar um up no catolicismo brasileiro.

Ser católico não é fácil; tem muita coisa pra seguir, tem que ir à missa obrigatoriamente uma vez por semana, não pode usar métodos anticoncepcionais “artificiais” tampouco ouvir rock (pra dizer o mínimo). Isso tudo soa anacrônico para o mundo moderno.

Por isso tantos migram para o espiritismo, que não exige nada e responde (pelo menos eles acham isso) a todas as questões, e para as igrejas-de-garagem-com-cadeira-de-praia, que permitem uma interação mais, digamos, catártica (com direito a encosto, línguas estranhas, choradeira e gritaria) e não exige muito além de dinheiro, com a promessa de prosperidade, poder, fama, etc.

Até entendo a inflexibilidade do papa: o terreno já está perdido; correr atrás dos pente[lho]costais é bobagem, vai parecer ridículo (alguém aí disse Renovação Carismática?) e, de mais a mais, se ele não afirmar a validade eterna de certos preceitos e a supremacia do catolicismo, quais seriam os motivos para alguém ser católico em vez de qualquer outra coisa mais atrativa? Bento 16 sabe das coisas: o negócio é segmentar o mercado, como já dizia seu ídolo Santo Agostinho (Cidade de Deus versus Cidade dos Homens).

De mais a mais ele não obriga ninguém a nada: não sou católico, nem ligo pro que ele pensa, por exemplo, em relação ao divórcio/ segundo casamento (segundo ele, uma “saúde e educação.

No mais, vai ser aquela punhetação na imprensa até domingo, quando ele vai embora, ou até surgir algo que renda mais notícias, como um desastre aéreo, o que vier primeiro. Talvez um desastre aéreo com o papa.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Eternidades da semana

E seu nome era Enéas: um tosco a menos. Pelo jeito, seu poder estava na barba; caiu, caput. E sem poder falar, porém largando suplente pouco votada no lugar. Quem será o próximo Rinoceronte Cacareco/ Macaco Tião? O último, creio, foi o Clodovil (affe). Ah, bons tempos em que dava pra escrever palavrão e desenhar pinto na cédula. Imagina o pessoal contando: Lula, Lula, Collor, pinto, palavrão, Collor, pinto... aposto que o Pintão levava fácil a parada.

Bingos e caça-níqueis: não falei que não ia dar em nada, que era só perfumaria? Apesar de a Polícia Federal do Lulão estar mandando bem, esses bingos são todos de políticos, e vão sobreviver navegando nos nebulosos oceanos de liminares.

Quebra de patentes: dá neles Lulão!

Eleições na França: finalmente acabou essa encheção; não sei porque isso era tão importante pro Brasil a ponto de a imprensa falar tanto. Enfim... ao contrário da América Latina, cada vez mais “vermelha”, a Europa segue seu caminho à direita.

Itaú tem lucro de R$ 1,9 bi no trimestre: quanto você lucrou até agora? Só sei que tenho grande parte nesse lucro deles, de tanta taxa que me cobram.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

No fim, todas as sociedades são julgadas por suas exceções e por seus extremos.

Esse título, excerto de Luís Fernando Veríssimo, tirado de sua coluna de ontem (6/5) do Estadão, serve perfeitamente para iniciar este post, sobre o qual venho reunindo informações que, infelizmente, insistem em se repetir. O que era um mais-ou-menos-breve comentário sobre o caso Champinha vai envolver aqui uma rasa tentativa de explicar e/ ou entender a questão da violência, pelo menos no Brasil.

Por algum milagre sociológico, não termos uma guerra civil generalizada. Já temos, há tempos e cada vez mais, os ingredientes para o caos: extrema desigualdade social, dividindo a população com um abismo entre ricos e pobres; gente para colocar lenha na fogueira dos dois lados.


A favela é a nova senzala, correntes da velha tribo.

Do um lado temos uma geração no limbo, no imenso vácuo onde o Estado não atua, e em cujas deficiências se aloja o crime. Crime alimentado pelo rancor, pelo ódio de uma população que paga impostos (proporcionalmente o mesmo tanto que os ricos), mas não recebe benefícios; que é espancada e humilhada pela polícia e não tem direito a uma oportunidade de emprego, a uma escola decente, a um atendimento médico minimamente humano.

Rancor e ódio de quem freqüenta transporte ruim, posto de saúde ruim, leva geral da polícia na ida para o trabalho e na volta dele e, no momento de descanso, é bombardeado com anúncios do tipo “Compre já seu carro zero quilômetro por ‘apenas’ cinqüenta mil reais”. Para quem vive de bicos e/ ou salário mínimo, isso é, sem dúvida, uma afronta.

Lógico que nada justifica o uso da força, mas isso, quase sempre, pode ser explicado. Já não bastassem essas condições propícias ao florescimento das sementes da violência, ainda temos grupos de rap que glamourizam a violência que supostamente condenam, além de resumirem todo o problema numa pueril luta de playboys versus manos.

Só com estes primeiros ingredientes já podemos fazer alguns lanchinhos: arruaceiros contra PMs toscos e psicologicamente despreparados em show dos Racionais MCs; o inesquecível Sandro (sim, ele tinha um nome e uma história), do ônibus 174; as chacinas que há todos os dias e para as quais ninguém mais liga.

Ou nossos queridos governos do PSDB/ PFL (PD), que, após as rampas antimendigo, querem colocar para fora da Sé, quando da visita do papa, os moradores de rua que lá habitam. Quer mais absurdo exemplo de exclusão social do que negar até a rua como moradia para cidadãos?

[Vale mencionar que todo governo brasileiro (seja de esquerda, direita, de cima, de baixo) é relapso com essas questões “de pobre”; a intenção aqui não é politizar a questão, mas citei os desgovernos de Serra e Kassab porque expulsar mendigo da rua já é um tanto demais, não? Mas continuemos.]

Onde o Estado não age, ou age mal, sobra espaço para criminosos, para álcool e demais drogas, para o ócio dos maus pensamentos. Altas taxas de desemprego, nenhuma opção de lazer próxima e um monte de botecos rodeados por pontos de tráfico. Cenários perfeitos para chacinas ou planejamento de crimes.


E a sala é a nova cela, prisioneiros nas grades do vídeo.

Do outro lado, temos pasquins como a Veja e programas do tipo TV-crime (Datena e afins) dizendo que bandido bom é bandido morto, massacrando o público com o João Hélio da vez (desde que seja de classe média ou acima, claro) em todos os ângulos, um mais sórdido que o outro. Vale tudo: de passar uma “reportagem” com a reconstituição do crime (Globo e Record) até estampar na primeira página a fotos dos acusados e a manchete “O que eles merecem?” (Jornal do Brasil). Agora é só atropelar o plebiscito contra o desarmamento, blindar o carro e se juntar, em algum condomínio fechado, aos outros cidadãos de bem, que espumam de ódio tanto nas redações de jornal quanto nos bares da moda contra a relé que insiste em não se colocar no devido lugar (o mais longe de nossos olhos, de preferência).

Nosso sistema de ensino antiquado e falido; nossa cultura de ler pouco e ler mal; nosso hábito de ver muita televisão, com seus programas histéricos cheios de pseudojornalismo e falsa indignação; nossa herança de desgovernos e políticos reacionários e corruptos que fazem todos pensarem que a violência é um fenômeno sobrenatural, que vem de fora da sociedade, como klingons belicosos; tudo isso faz com que as classes privilegiadas achem que não têm responsabilidade (o que é diferente de culpa) nesse imbróglio todo.

[Sim: eu que tenho um computador para escrever e você que tem um para ler fazemos parte da elite, em termos de Brasil. Todos temos telhado de vidro porque não fazemos nada prático. Mas isso é assunto para outra postagem, minha teoria sobre as revoluções.]

Chegamos a um ponto (como me advertiram dois amigos que me contaram desta notícia e outro que apontou a gravidade, digamos, teórica, da situação) em que temos, além de povo contra governo ou povo contra polícia, povo contra povo.

Estamos cada vez mais irracionais, mais intolerantes. É o verdadeiro cu do mundo.


E quem é que vai pagar por isso?

E onde entra o tal do Champinha, citado como motivo inicial do post, nesta história toda?

Vamos pegar o gancho da irracionalidade. Não a do bandido, mas a da sociedade. O tal Champinha voltou à mídia nesses dias porque fugiu da Febem, talvez até facilitado por funcionários, decerto na esperança de que alguém aqui fora “apagasse” ele, naquelas “resistências à prisão" em que o meliante leva uns quarenta tiros, vai saber. Mas o bom filho à casa tornou.

Embora ele seja um caso à parte, visto que, além de uma vida sofrida (e ainda lhe exigem uma compaixão e uma civilidade que nunca lhe foi oferecida), ele tem claros problemas cerebrais, sendo portanto um caso muito mais psiquiátrico que criminal (não é caso de cadeia e sim de internação), os “cidadãos de bem” já vêm rosnando com palavras-de-ordem como “pena de morte” e “redução da maioridade penal”, isso quando não chegam a termos como “matar esse animal”, “torturá-lo lentamente”, etc. Para conferir isso, basta pesquisar no Google e procurar qualquer debate sobre o assunto. Logicamente, além de cidadãos ordeiros e educados, devem ser quase todos piedosos cristãos.

Essa cultura do ódio e da paranóia em que vivemos nos cerra a vista para a dimensão completa dos eventos. Pegam-se fatos isolados para que a realidade fique mais simples, mais P&B; fica mais fácil de “entender” e de se eximir de qualquer responsabilidade.

Porém somos nós mesmos que criamos e alimentamos as criaturas que nos devorem. Os Champinhas, os Sandros, os linchadores e linchados, chacinadores e chacinados, todos são nossos “parentes próximos”. E poderíamos, facilmente, ser um deles. Ao mesmo tempo em que não temos culpa, somos todos responsáveis.

As cartas estão na mesa, os ingredientes estão misturados na panela fervente. A hora da refeição se aproxima: quem vai experimentar primeiro essa iguaria indigesta?