segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Oh não: o mundo não mudou.

Sem dúvida, 2007 foi um ano bizarro. Tanto que eu, nem afeito a fazer balanço, resolvi dar mais esta blogada antes que o ano termine, pois este planetóide cheio de antropóides não deixa de divertir, espantar e desapontar (tá, mais desapontar do que outra coisa) todos os dias. No mais, beba bastante (vale até cerveja quente), dance, curta um sossego e, mais do que não dirigir bêbado, não passe nem perto da linha amarela do metrô, senão você vai pro buraco antes do ano.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Cnidários nos jornais diários

“Jesus respondeu, e disse-lhe: se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (Jo 4, 10)

Jornalismo na internet é foda, ainda mais no final do ano: equipes que já são sobrecarregadas, diminutas e mal preparadas devem ser reduzidas a poucos estagiários. Vejam só esta notícia que vi na capa do Uol/da Folha, dizendo que centenas de pessoas foram atacadas por águas-vivas na Praia Grande (litoral sul paulista). Centenas! Imaginei, sei lá, umas 500 pessoas queimadas pelas gelatinas cheias de tentáculos malignos. Quando abri o link, vi que eram pouco mais de 220 pessoas. Nem tantas centenas assim, né. Já pro Terra, confiabilíssimo com sempre, já são mais de 300 pessoas. Os 300 de Long Beach também aparecem n'O Globo e no iG. Já outros jornais divergem, chutando entre 140 e 255 vítimas. Mas o pior de tudo nessa desinformação é que o ataque não foi feito por águas-vivas, mas por suas primas caravelas, também cnidários, porém bem mais venenosos. Melhor ouvir a água-viva do Raulzito ou ler a da Clarice Lispector.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Eternidades da semana

Enquanto estou de luto pela peda de uma inefável companhia comandando as madrugadas, presos querem mais tempo para estourar a champanha, a temida bactéria (talvez a mesma que apareceu antes do vírus Ebola e que foi removida dos noticiários para não causar pânico, pois matava em um dia) atava novamente, tenho umas perguntas impertinentes: incêndio no HC não é caos na saúde? Trânsito apocalíptico dois dias antes do feriado não é caos rodoviário? Roubo de obras do Masp não é caos artístico? Preso indultado estuprando não é caos carcerário? Enfim, quer saber? O negócio é comemorar o reveião e deixar o Homem trabalhar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Xmas, bloody Xmas

“É normal que, num fim de semana, ao viajar, muita gente morra presa nas ferragens de um Fusca sem que ninguém socorra.” (Biquíni Cavadão)

Com a mobilidade das classes D e E para a classe C (assunto mencionado no último post), a estabilidade econômica, os planos de pagamento a-perder-de-vista e a possibilidade de usar o FGTS para financiamento de veículos (além de os espertinhos de classe média que compram mais carros só para driblar o rodízio), temos, como já afirmei aqui 700 novos carros nas ruas de São Pulo todos os dias. Isso tem o lado bom de a economia do setor crescer e, mais que isso, reduzir drasticamente o desemprego na região do ABC, onde estão concentradas as montadoras.

Porém a questão do trânsito não vem sendo considerada devidamente; é mais do que óbvio que São Paulo vai parar definitivamente em poucos anos, devido ao inchaço populacional (vindo, mais que do Nordeste, do norte de Minas Gerais, além dos vizinhos bolivianos, peruanos, paraguaios e demais hermanos semi-escravos) e à falta de estrutura de transporte público (salvo as melhorias feitas na gestão da Marta Suplicy); como por anos e anos as obras viárias para carros foram privilegiadas, nossa malha ferroviária é um lixo, a rodoviária insuficiente e a metroviária, ridícula de tão pequena e sobrecarregada. O que fazer?

Aliás, essa questão do trânsito, que envolve muito egoísmo das classes altas contra as mais baixas (seja na displicência com que o transporte público é tratado, seja na esperteza de comprar mais carros para driblar a lei e dar uma de esperto), evoca o problema da má educação crônica do brasileiro no trânsito: juntemos estradas ruins, bebedeiras, afobação, falta de espírito coletivo e, principalmente, imprudência (que vem da falta de modos), e temos tantos acidentes rodoviários a cada feriado. E as estatísticas mostram que, mais que o alcoolismo (teoria que surge naturalmente pela época de festejos), o problema é a imprudência mesmo. Questão essa que se estende para as vias urbanas, nos semáforos vermelhos ultrapassados, nas brigas de trânsito, nas filas-duplas em porta de escola, nos belicosos motoboys e nos cruzamentos fechados.

Caetano Veloso aborda essa questão, especialmente o ultrapassar de faróis vermelhos, em nada menos que quatro canções – Podres Poderes (1984), Vamo Comer (1987), Neide Candolina (1991) e Haiti (1993) – e já deu diversos depoimentos à imprensa, especialmente na década de 1990, provavelmente pelo mesmo motivo pelo qual Antonio Cícero, em seu livro O Mundo Desde O Fim (1995), mais precisamente no ensaio O Trânsito No Brasil, sugere que a impunidade no trânsito constitui um sintoma da incapacidade de autonomia da sociedade brasileira. Nada mais natural para um povo que precisa ser multado para não correr e, pior, para usar cinto de segurança.

Deixaremos de ser crianças brincando de carrinho de bate-bate antes que as predições de Laerte (numa Chiclete Com Banana da metade dos anos 1980), da revista Mad (do mesmo período, creio) e de Ignácio de Loyola Brandão (em Não Verás País Nenhum, de 1981), com o engarrafamento definitivo, com carros subindo as paredes como baratas, invadindo todos os espaços, e as pessoas tendo que viver dentro de seus automóveis (alguém aí pensou na Catifunda?) ou morreremos todos em acidentes cinematográficos à Crash – Estranhos Prazeres e À Prova De Morte?

“Vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas.” (Legião Urbana)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Não verás país nenhum.

A terra é uma beleza, o que estraga é essa gente, já dizia o filósofo Roger Moreira; enquanto o governo federal, a despeito da oposição-de-torcida-organizada, da mídia golpista, da classe média “cansadinha” e pasmem, agora até de padres-de-passeata fazendo greve de fome, vem conseguindo constantes avanços, especialmente na área social, incluindo o que talvez será a primeira ação efetiva contra a seca no Nordeste – o que era de se esperar vindo do Lula –, temos que ler coisas de playboys truculentos e marrentos. No primeiro caso temos os típicos ogros que têm grandes bíceps e cérebros inversalmente proporcionais, tendo que resolver todas as questões pessoais e sexuais na base da porrada mesmo; já o menino mimado das tardes de sábado na Globo (de cérebro pequeno e nariz grande), por mais que paparazzo encha o saco mesmo, curiosamente resolve isso na porrada poucos meses depois de reclamar da violência. Sem falar que é engraçado que esses VIPs profissionais, que adoram mostrar a casa e o estilo de vida (credo) na Caras, no Vídeo Show, na Contigo e vão a esses eventos para aparecer e fazer factóides (ou alguém acha que tinha fã do The Police na área reservada aos artistas e demais quase-famosos?), mas se fazem de ofendidinhos quando a imprensa (sic) que eles mesmos alimentam vem lhes cobrar um quinhão. E não é só isso: tivemos o caso do Masp, no qual os caras se aproveitaram da falta de segurança (e/ou da conivência de funcionários) e levaram um Portinari e um Picasso na cara-dura; fico imaginando os dois bandidos andando na Paulista com os quadros debaixo do braço, talvez até parando no ponto de ônibus da Gazeta para pegar a condução. Tivemos a polícia bandida de sempre, corroborando cada vez mais o Rota 66, do Caco Barcelos; eles matam preto pobre, e matam pra valer. Como diria a inefável Regina Duarte, "eu tenho medo". Enfim, podemos ser atrasados em cultura (nunca entendi porque, além do preconceito contra a língua hermana, não somos nem coerentes pra recusar tudo, pois importamos as porcarias descartáveis e ignoramos os graneds artistas deles); mas, sem dúvida, em malandragem e mau-caratismo, temos muito com o que contribuir para o mundo. E para o Natal, nada como uma notícia bem condizente. Jingobéu.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Pull the tapeworm out of your ass.

Como vai a Presidência? Bem, apesar dos pesares. Engraçado como a Folha (e provavelmente o resto da mídia) trata o assunto: não é do governo Lula o mérito, por meio das políticas sociais e da austeridade econômica, que proporciona a diminuição da pobreza e o aumento da mobilidade social, mas é o mercado liberal que, a despeito do governo estatizante e maléfico do Sapo Barbudo, consegue aproveitar a maré econômica favorável que o governo FHC criou.

Como vai o Governo do Estado? Pra classe mérdia, parece tudo ótimo, apesar dos pesares cada vez mais pesados. Impressionante que a famosa elite branca paulista compra qualquer coisa que a imprensa venda, até mesmo a imagem de presidente eleito que colaram no Serra; ele não é só o maior ministro da Saúde que todos os tempos, mas também um grande administrador, austero e pragmático. Disso eu só acho que ele é uma "praga" mesmo. O buracão do metrô ficou que nem o Julião Tavares no Angústia, do Graciliano Ramos, que engravidou Marina, pretendente do protagonista Luis da Silva, e tudo ficou entre a família dela como se Julião fosse um acidente, "viga que cai do andaime e mata o transeunte".

Como vai a Prefeitura? Enquanto temos 700 novos carros emplacados e um novo edifício em São Paulo a cada dia, nosso prefeito e governador eleito continua com seus factóides dos quais dá até preguiça de falar. Vale mencionar esta vergonha, da qual todos sabem, assim como os contrabandos da 25 de Março, e não fazem nada efetivo além de operações no melhor estilo cortina-de-fumaça ou boneco-de-palha.

Já nossa oposição (notadamente o PSDB), que virou outro PMDB, com vários partidos dentro do partido disputando as migalhas do poder que caem da mesa presidencial (tem o PSDB do Serra, o do Aécio, o do Arthur Virgílio, o do FHC, o do Alckmin – esses dois últimos in memorian), sem pensar no Brasil, sem se opor honestamente, sem se importar com alguém que não eles mesmos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Eternidades da semana

Era só o que faltava. Ah não, faltava isto também, que tem todo ano. CPMF sim, CPMF não. Rodízio sim, rodízio não. Má educação sim, má educação também, má educação sempre. Classe C consome e o PCC não some. Haverá um milagre em São Paulo? Mas isto já me agradaria.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Eternidades da semana

Quase nada de muito novo no front: Kassab e suas medidas higienistas revoltantes, bem à moda do PSDB/DEMo, que faz rampas antimendigo e expulsa o mendigos pra periferia. FgagáC continua falando coisas sem nexo e se contradizendo, o Partido da Imprensa Golpista (PIG) continua com seus factóides e Chávez, mais uma vez, calou a boca de todos, mostrando o quão “ditador” ele é. Pelo menos o Renan Encalheiros renunciou, assim pára essa punhetação. Ei, eu disse quase nada porque tem um livro no prelo que promete ser fabuloso... e vejam só, “ainda seremos macacos outra vez”.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Ser corinthiano é ser também um pouco mais brasileiro.

Depois eu falo do higienista Kassab, do "ditador" (sic) Chávez e da mídia-sempre-golpista. A notícia mais importante do momento, visto que atinge diretamente uns 35 milhões de brasileiros, é a queda do Sport Club Corinthians Paulista de Glórias Mil. Resultado natural da desastrosa segunda metade da gestão Dualibi, quando o “rouba, mas faz” deu lugar só ao “rouba”, houve uma seqüência desastrosa de decisões suicidas e inacreditavelmente amadoras:

1. a parceria obscuríssima com a obscuríssima² MSI, que praticamente lhes dava o clube de presente em troca de uma grana que não parecia mesmo vir de boa cepa;

2. a contratação, por parte da diretoria, de um monte de craques geniosos e de salários altíssimos; quem tem que contratar é o técnico, não a diretoria; não adianta fazer um ninho de cobrar (em todos os sentidos) e jogar um técnico lá pra administrar o vulcão;

3. depois das passagens desastrosas do Muçarela e do Palhaço Krusty, o honesto Márcio Bittencourt, volante sanguinário da conquista de 1990, faz um ótimo trabalho e larga o time líder – quando é demitido;

4. vem o estrelíssimo Leão, que não gosta de argentinos, e briga com o elenco inteiro, além de contratar um monte de cabeças-de-bagre inomináveis;

5. Leão abandona o barco, o time mergulha numa crise sem precedentes devido aos desmandos da diretoria bucaneira;

6. os jogadores, que não têm culpa de serem ruins, nem de estarem lá, dão o sangue, mas o melhor deles ainda é uma porcaria;

7. resultado óbvio da falta de elenco, o time cai, com toda a justiça, para a segundona;

8. entre mortos e feridos, salvam-se São Felipe, Vampeta, Betão & Zelão e Arce; Lulinha ainda ta muito verde pra essa fogueira e o resto eu colocava num saco, enchia de pancada e atirava no Tietê.

9. palmas pra torcida, que apoiou, acompanhou, lutou junto, sofreu junto; por isso é a Fiel... e as outras são apenas torcidas;

10. eu sou Corinthians! Eu nunca vou te abandonar porque eu te amo!