quinta-feira, 19 de março de 2009

Vamos Tesouro, não se misture com essa gentalha.

Síndrome de indie é uma coisa que enche o saco. Antes se restringia à música, com os filhotes de Álvaro Pereira Júnior se regozijando em proclamar como salvação do rock a mais recente banda do interior da Islândia, para, meses depois, com falso blasê, mostrar desinteresse só porque não é mais só ele e seus dois amigos nerds rancorosos que ouvem o que ele mesmo divulgou.

Como agora, devido à mp3, fica muito mais fácil para todos ouvirem de tudo, sem a necessidade de gurus, o câncer de indie melindrado se arrastou para a internet: as redes sociais têm, freqüentemente, chororô dos chamados early adopters (nome frufru para nerds/geeks) ante a popularização do Orkut, do Facebook, do MySpace, do Twitter, etc., não sem completar a mensagem com os bordões “isto aqui era melhor há dois anos, quando não havia muitos brasileiros” e “maldita inclusão digital”.

Cada vez que a empregada sai do quartinho dela e passa em frente à sala de estar dos patrões, é um chilique, um incômodo, uma coceira que revela todos os preconceitos dos caboclos que desejam ser ingleses, para usar mais ou menos um termo do Cazuza.

A vocação de jeca que acompanha a classe média brasileira não decepciona jamais.

terça-feira, 10 de março de 2009

Eternidades da semana

1. O arcebispo de Olinda foi estúpido em externar à imprensa as convicções da religião que representa e escroto em tentar levar o caso à Justiça. Mas foi coerente com os preceitos do catolicismo. Os católicos, ou os que se dizem assim, é que definitivamente precisam rever seus conceitos ante à modernidade. A Igreja não.

2. O nível do futebol atual está tão baixo que um moleque de 20 anos, um gorducho baladeiro e um encrenqueiro que joga partida sim, partida não são os destaques do esporte nacional. Definitivamente o Brasil não dá mais conta de exportar craques. Série A na Itália e Espanha, série B na Alemanha e Rússia, série C aqui. Desafio Ao Galo no Qatar.

3. O brasileiro se identifica com Ronaldo porque ele é batalhador, meio burrinho, gente-boa, humilde, faz umas merdas com dinheiro na mão mas não perde a sensibilidade. Eu mesmo havia decretado seu fim antes da Copa de 2002, estava cético com esta volta aos campos no meu time, mas, com a bola no pé, ele é fenomenal.

4. Otávio Frias Filho, apesar do falso mea culpa quanto ao termo ditabranda, insiste em comparar ditaduras com base no número de vítimas do regime. É a velha tática direitista da contagem de corpos. Mais ridículo que isso, só a cobertura insípida do próprio jornal quanto ao protesto em frente a Folha. Um quarto de página perto do ombundsman, bem ali onde ninguém lê, embaixo de outras notícias irrelevantes.

5. As matérias da grande mídia sobre os fenômenos da internet são constrangedoras. Sempre com enorme atraso, sempre entrevistando as mesmas pessoas que não sabem nada, sempre com aquele jeito Folhateen de falar coisas óbvias sem se aprofundar em nada, e sem jamais compreender realmente o objeto das matérias. Os cadernos de informática dos jornais, por exemplo, deviam parar de encher as páginas de matérias pagas e releases e contratar jornalistas antenados que corram atrás das novidades antes que estas morram de velhice.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Half a person

Esta semana, por ter ido à balada com o Femônemo, da qual este voltou para a concentração bêbado, atrasado e chiliquento, o diretor técnico do Timão, o ex-jogador Antônio Carlos Zago não agüentou a pressão e pediu demissão. Dei graças a Zeus, afinal nunca quis que esse racista filho-da-puta pusesse os pés no glorioso Parque São Jorge, muito menos dirigisse alguma coisa no meu Sport Club Corinthians Paulista de Glórias Mil.

Assim que a imprensa deixou de achar interessante divulgar o racismo do Antônio Carlos, isso perdeu a importância. Quando ele veio trabalhar no Timão, ano passado, ninguém na imprensa comentou sobre sua procedência, algo imperdoável, ainda mais num meio no qual o racismo vem crescendo.

Não posso esquecer seu passado negro (ops) por, além de isso não ter feito tanto tempo assim (foi em 2006), ele nem pagou pelo crime fora do âmbito futebolístico (pegou apenas 60 dias de suspensão), nem demonstrou arrependimento. Pior: em vez de um mea culpa, veio com o aquele papinho de “vocês me interpretaram mal”. Cazzo, não é mais digno dizer “fiz merda, estava de cabeça quente, foi mal”? Só se desculpou quando acuado pelo Ministério Público.

Enquanto isso, aposto que meio mundo releva tudo isso com base no pensamento popular que cria um dualismo entre o pessoal e o profissional. Sabe aquele lance de “ah, ele é um chefe cuzão, mas como pessoa ele é legal”? Não, ‘tá errado! Se ele é torpe 8h/dia, não pode ser boa pessoa. O caráter de alguém é posto à prova o tempo todo, não só em determinadas circunstâncias. Valores não podem ser relativos (“Vamos ver, sou ser gente-boa com meus amigos e um carrasco com minha família.”). Isso é um afrouxamento estúpido, uma permissão que a sociedade se dá para poder gostar de gente que não presta e poder dormir sem peso na consciência.

Mas o pior de tudo isso é quando dizem “Mas fulano, enquanto pessoa”... ah, e enquanto latinha de cerveja, enquanto mula-sem-cabeça, enquanto batata-doce, ele é o quê? Quando ele deixa de ser uma pessoa?

Hmmm... talvez quando seja racista, né.

Gone

Comenta-se hoje aqui no meu bairro que um conhecido senhor da rua de cima, de 95 anos, inclusive amigo do meu pai, daqueles vovôs bonachões, de bem com a vida, de grande família e muitos amigos, foi informado esses dias pelo médico de que estava com um câncer na próstata em estágio terminal. Recebeu a notícia placidamente, chegou em casa, colocou algumas roupas em uma bolsa, redigiu um bilhete dizendo que não queria dar trabalho a ninguém, deixando-o à mesa junto com os cartões de crédito e o do banco (com R$ 2.000 na conta) e saiu. Mesmo com os cartazes nos postes de toda a região estampando sua foto e pedindo informações, ainda não se sabe o paradeiro dele.

segunda-feira, 2 de março de 2009

To live is to die

Nunca perdi ninguém realmente próximo e querido. Já perdi colegas, parentes, animais de estimação, já vi gente morrendo tragicamente na minha frente, já escapei eu mesmo da morte rente aos calcanhares, mas não sei o que é a morte. A morte de verdade, não a nossa própria. Porque, como disse Epicuro, essa não vale, porque só chega depois que a gente vai embora, não há um encontro. Ou, como disse Schopenhauer, é o mesmo que antes de termos nascido; simplesmente um grande nada com o qual não precisamos nos preocupar. Mas nenhum filósofo lidou decentemente com o luto: morrer de verdade é senti-la enquanto ainda estamos vivos. É o imponderável de a pessoa amada definhar e morrer sem que possamos fazer nada. Quando se ama a dor do outro é muito pior que a nossa própria. A pior dor é perder algo/alguém e ter a certeza de aquilo ser para sempre. Mas agüenta-se, e, cedo ou tarde, percebemos que a vida continuou sem que percebêssemos. Suportamos toda dor, menos a última. Até lá, é carregar a pedra.